As chinesinhas de Sacavém
Em Março passado o número de inscritos nos centros de emprego estava acima dos 480 mil. Em 1975 rondaria os 250 mil.
Entre os desempregados de 75, figuravam ainda muitos dos trabalhadores da Applied Magnetics, uma multinacional norte-americana que em Sacavém, mais concretamente no Prior Velho, tinha produzido peças para computadores e outro material electrónico e que inaugurou por cá, antes de ser moda, o tempo das deslocalizações.
"Já não podiam explorar como queriam", comenta Adélia, que trabalhou ali quase dois anos. Turnos de sete horas seguidas, por vezes dois de uma assentada, a soldar fios eléctricos em pequenas cápsulas de plástico, tudo tão pequeno que obrigava ao uso permanente de microscópios, alinhados em grandes bancadas brancas e Adélia e outras dezenas de mulheres agarradas a eles. "Tínhamos sempre o encarregado atrás, nem a cabeça podíamos levantar."
Quando o 25 de Abril chegou, mais de metade da população empregada em Portugal ganhava, por mês, entre 1500 e 3500 escudos (7,5 a 17,5 euros). Com a revolução ainda na rua, anúncios nos jornais pediam paquetes, com "idade entre 14 e 17 anos" e "escolaridade obrigatória". "Vencimento inicial de 1495 escudos" (cerca de 7,5 euros) por mês. No Estado, por exemplo, aumentava-se um director da Direcção-Geral de Fiscalização Económica para 17.200 escudos (86 euros) e um adjunto técnico de 2.ª classe do mesmo departamento para um pouco menos de metade.
Na Applied Magnetics, o pagamento médio andava pelos dois mil escudos. Não por muito mais tempo. Em Maio de 1974, era fixado o primeiro Salário Mínimo Nacional: 3300 escudos, aumentado um ano depois para quatro mil.
Clara Viana e Paulo Ferreira, "1975: o ano da outra crise", jornal Público, 10 de Maio de 2009, Caderno P2, pp.4-7.
Sem comentários:
Enviar um comentário