sexta-feira, 15 de junho de 2007

As causas da inflação

Meados de 1982 [em França]: a inflação, que reduz a competitividade do país e acentua o défice comercial, tornou-se o problema mais grave. Para a conter, confrontam-se duas escolas. De um lado os defensores da inflação pela procura: para eles, a alta dos preços traduz uma procura excessiva que é preciso reduzir, limitando a quantidade de moeda em circulação. Do outro, os defensores da inflação pelos custos. Segundo eles, a inflação é devida à repercussão nos preços [dos bens e serviços] dos aumentos mal geridos dos salários. Os primeiros defendem o recurso a uma política monetária restritiva, isto é, a um aumento severo das taxas de juro. Para os segundos, uma tal política é contra-indicada, pois ela comprime a procura de uma forma brutal e indiferenciada. Se ela reduz as importações e favorece o regresso ao equilíbrio externo, ela também reduz o mercado das empresas nacionais e aumenta, portanto, o desemprego. Nestas condições, a política indicada para lutar contra a inflação é a política de rendimentos, isto é, a evolução negociada dos salários. Em Julho de 1982 o governo impõe um modelo de política de rendimentos, através de uma lei bloqueando preços e salários. Mas em Março de 1983 o endurecimento do rigor muda o jogo: é a política monetária que se impõe. Por que razão se abandonou tão cedo a política de rendimentos? Por engano, sustenta nas vésperas da sua morte (em 1983), Sidney Weintraub, teórico da inflação pelos custos.

Sidney Weintraub nasce em Nova Iorque em 1914. O seu percurso é clássico: London School of Economics em Londres, Columbia University em Nova Iorque, doutorado em 1941 e, a partir de 1952, professor na Universidade da Pensilvânia. Discipulo convicto de Keynes, opõe-se a
[Paul] Samuelson. Ele acusa-o de deformar o keynesianismo, em particular pela adopção da curva de Phillips, ou seja, da ideia de uma relação inversa entre a taxa de desemprego e a taxa de inflação. Mas o seu alvo privilegiado é o monetarismo. Para Weintraub, é um engano fazer da inflação um fenómeno principal ou exclusivamente monetário, pois ela é a consequência dos confrontos entre os grupos sociais à volta da repartição do rendimento nacional.

Weintraub substitui a equação quantitativa da moeda, que liga os aumentos dos preços aos empolamentos da massa monetária, por uma equação associando os preços e os salários (ou seja p = k w /A, onde p representa os preços, w os salários, A a produtividade e k é uma constante própria de cada país). Portanto, evita-se a inflação negociando com os sindicatos uma evolução das remunerações de acordo com a da produtividade. Quanto aos sucessos atribuidos à política monetária, eles resultam de um mecanismo malsão: uma restrição monetária provoca falências de empresas e desemprego, o que amolece a determinação reivindicativa dos trabalhadores. No seu livro
Capitalism's Inflation and Unemployment Crisis, saído em 1978 (na editora Addison-Wesley), Weintraub dá um modelo da política alemã dos anos 1970, isto é, uma política de rendimentos activa corroborada por um banco central independente. Para Weintraub, a independência do banco central é útil, pois ela incita os parceiros sociais a entenderem-se. Eles sabem, com efeito, que os falhanços da política de rendimentos serão sancionados por uma política monetária restritiva e portanto por desemprego. De um carácter difícil, que o faz qualificar por Samuelson de "lobo keynesiano solitário", mostrando-se muito condescendente relativamente aos monetaristas, Weintraub provoca muitos inimigos, ao ponto de não obter o prémio Nobel da economia, que lhe pareceria naturalmente devido.

Jean-Marc Daniel (professor na European School of Management), "Weintraub et la politique des revenus", jornal Le Monde, 13 de Junho de 2007, p. IV do suplemento de economia.

Notas explicativas:
A equação quantitativa da moeda referida no texto tem a seguinte expressão: M V = P T, onde M representa a moeda, P os preços, V a velocidade de circulação da moeda e T as transacções. Segundo os defensores da teoria quantitativa da moeda, os aumentos da moeda em circulação geram aumentos dos preços. Com efeito, os aumentos de M, com V constante, implicam aumentos de P T, para continuar a verificar-se a igualdade M V = P T. Ora se as transacções não se alterarem (ou pouco se alterarem), aumentos de M traduzem-se por aumentos dos preços - quando aumenta a moeda em circulação os preços dos bens e serviços aumentam, ou seja, ocorre inflação. Segundo estes economistas a inflação é apenas um problema monetário. Milton Friedman (1912-2006), prémio Nobel da Economia em 1976, foi um conhecido defensor desta teoria.

Perguntinhas:
a) Explique as duas teorias explicativas da inflação referidas no artigo.
b) Qual foi a resposta que as autoridades económicas francesas deram ao problema da inflação no princípio dos anos 1980?
c) Qual é a abordagem defendida pelo economista Sidney Weintraub?
d) No artigo é dada uma interpretação do sucesso da política monetária (conduzida por um banco central independente do poder político). Enuncie essa interpretação.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

A evolução do emprego em Portugal

Perguntinhas:
a) Obtenha os valores em falta na tabela.
b) Suponha que entre 2005 e 2009 a população empregada aumenta em 150.000, conforme o objectivo eleitoral anunciado pelo Partido Socialista, na campanha eleitoral para as legislativas de Fevereiro de 2005. Admitindo um valor razoável para a população activa para o 1º trimestre de 2009, mostre que a taxa de desemprego deve aumentar entre 2005 e 2009.