terça-feira, 23 de dezembro de 2008

A economia real ao ataque...

Fernando Ulrich no Público de hoje dá uma entrevista a Cristina Ferreira onde revela as mazelas da banca nacional, ao mesmo tempo que deixa um aviso: "[os bancos] vão ter que cobrar preços mais altos".

Algumas notas:
- O défice da BTC (e o marasmo do investimento externo) significa uma dependência do financiamento externo. A escassez de crédito e o aumento dos spreads externos traduzem-se em condicionamento do crédito disponível para o Estado, Empresas e Famílias ("é bom que as pessoas tenham consciência que Portugal é um dos países com um dos maiores défices da BTC do mundo. Quer em percentagem do PIB, quer em valor absoluto, é uma realidade que poucos conhecem. O país com maior défice da BTC é os EUA, o segundo é a Espanha. E Portugal está nos 10 primeiros. E o desafio é este, pois financiar este défice vai ser muito mais difícil do que foi até aqui. E pode até não ser possível.") E o negócio bancário ressente-se;

- A banca é acossada injustamente com as opiniões desfavoráveis de Mário Soares, Jorge Sampaio, Belmiro de Azevedo e Henrique Granadeiro. Apenas um banco, a CGD, já beneficiou da garantia estatal para se endividar; a ameaça governamental de suspender a garantia é despropositada. O BPP pode não ser viável;

- O aumento da exigência de capitais próprios, com a subida da Tier 1 para 8%, é mau vindo: vem complicar o exercício bancário ao exigir aumentos de capital, num momento em que é difícil de o fazer. A banca tem dificuldade em remunerar o capital e por isso é de esperar um aumento dos preços.

Duas reflexões sobre esta entrevista:
- Tivemos duas décadas de sossego nas contas externas; inicialmente fomos embalados pelo investimento externo e depois pela credibilização associada à participação na UEM. Se até 1986 tínhamos duas bombas sempre prontas a detonar (o desemprego e a ruptura nos pagamentos internacionais), agora temos uma (o desemprego) e uma espécie de bomba que é a corrosão da nossa credibilidade junto dos credores. A economia real (falta de competitividade, défice externo) volta em todo o seu esplendor. E isto num ambiente de desconfiança dos investidores internacionais. A banca navegou lindamente durante aquelas duas décadas. A margem de intermediação bancária minguou com a desinflação mas as dívidas (e portanto o negócio) dispararam. Agora tudo se complica.

- Aparentemente pela cabeça de Fernando Ulrich não passa a hipótese das dificuldades da banca serem combatidas com reestruturações, com fusões. Ulrich fala tranquilamente em aumento dos preços cobrados pelos bancos; presumivelmente spreads mais elevados e reforço dos custos de serviços bancários. Ao ler o aumento preconizado dos preços, é difícil afastar a estafada ideia da concertação dos bancos...

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A escalada do desemprego...

...nos Estados Unidos...

...e em Espanha:

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

As taxas de juro baixas são...


... viciantes.

sábado, 18 de outubro de 2008

Paul Krugman e Fernando Pessoa...

No princípio da semana foi conhecida a escolha do Banco da Suécia: o "Prémio de Ciências Económicas em memória de Alfred Nobel", vulgo prémio Nobel da Economia, foi atribuído a Paul Krugman "for his analysis of trade patterns and location of economic activity".

Andei vários dias a pensar nos contributos de Krugman para a compreensão do comércio internacional. As economias de escala e o gosto pela inovação ajudam a compreender o comércio internacional entre os países com uma dotação factorial semelhante. So what?

Não percebo nadinha de comércio internacional. João César das Neves na 3ª feira observava no Público que as economias de escala justificavam a existência de comércio internacional entre países semelhantes. Pensei nos automóveis de luxo produzidos em França, Itália e Alemanha e pareceu-me que o argumento é pobrezinho - o que é que as economias de escala ajudam a compreender o comércio na Zona do Euro destes carrinhos? Já o gosto pela inovação talvez possa justificar alguma coisa. Mas...

Jean Paul Fitoussi observava algures que os benefícios do comércio externo resultam de um grau óptimo de abertura ao exterior. Acho que o grau óptimo não está em nenhum dos extremos (autarcia ou liberdade total de movimentos de mercadorias). Qual é o grau óptimo?

O Público de hoje noticia o desinteresse dos herdeiros de Fernando Pessoa, relativamente à proposta do direito de preferência feita pelo Estado. O Estado reagiu classificando como interesse nacional todas as obras em mãos de privados, impedindo sua a saída do país. O jornalista Luís Miguel Queirós conclui "O que está em causa é apenas isto: o Estado, usando dos instrumentos que a lei lhe atribui, deve ou não evitar que saiam do país alguns milhares de manuscritos e dactiloscritos de um dos maiores escritores europeus do século XX? Acho que deve." Será que deve?

Robert Shiller numa entrevista a Bloomberg esta semana notava que este ano o Banco da Suécia, com a instabilidade do mercado de crédito e dos bancos, estava naturalmente inibido de atribuir o prémio na área das expectativas racionais e da eficiência de mercados...

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Os problemas da banca nacional...

O gráfico do endividamento das famílias ilustra um problema da banca nacional: o negócio bancário assente no endividamento das famílias e subsequente titularização e venda a bancos estrangeiros está ameaçado. Esta dificuldade assenta em dois factores. Por um lado o ambiente de desconfiança diminui a possibilidade/rendibilidade de colocação da dívida das famílias portuguesas no estrangeiro. Por outro o patamar das dívidas das famílias também significa que o endividamento não pode continuar a registar as taxas de crescimento do passado recente.

Segunda-feira negra

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Rentrée triste na Fnac...

O Público traz na 1ª Página uma notícia pior do que a crise bancária americana: a Fnac suspende a partir de hoje o desconto geral de 10% nos livros, reservando-o apenas para os clientes portadores do cartão Fnac. A Fnac está a piorar.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

"Enganados de novo"

Enganados de novo. Andámos durante anos a aturar os consultores da Merryl Linch, os gestores da Lehman Brothers, os génios financeiros da Goldman Sachs - para vermos, numa só semana, que nem da casa dele sabem cuidar.
Rui Tavares, "Gestor Pangloss", jornal Público, 22 de Setembro de 2008, p. 36.

sábado, 13 de setembro de 2008

Fatalidade agridoce...

O que significa, na prática, uma zona monetária óptima?

Suponhamos por um momento que a tragédia do "Prestige" tinha ocorrido no Algarve. O turismo para as terras algarvias teria sido reduzido para aproximadamente zero e portanto a economia regional teria sido dramaticamente atingida. Os hotéis, os apartamentos, os quartinhos, os parques de campismo, os restaurantes, os bares, as discotecas, as rent-a-car, tudo, ficaria às moscas. Como seria minimizado o impacto social desta desgraça?

Numa zona monetária óptima os algarvios zapariam para outras paragens. Deslocariam os seus apartamentos, quartos, amêijoas da Ria Formosa e figueiras para o Alentejo, para o Mindelo, para a Côte d'Azur, para Mimizan, para o Báltico, para qualquer lado da Zona Euro... Como os americanos fogem das zonas deprimidas da América e demandam a Califórnia, os algarvios instalariam-se alegremente noutras paragens.

A emigração portuguesa no Século XXI é sinónimo de optimalidade da Zona Euro. Os empregos escasseiam em Portugal e nós emigramos. Existe mobilidade do trabalho.

Mas a emigração também é um sinónimo de desertificação - parece que a pobreza alentejana se alastra pelo território nacional.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Douradas selvagens = entropia selvagem

A revista Proteste da Deco na edição de Setembro traz um estudo sobre as douradas que se podem comprar em hipermercados, supermercados e peixarias. São distinguidas duas origens, a aquicultura e a captura no mar.

As douradas de captura foram preferidas pelos provadores. Na prova de degustação os provadores atribuiram 7 classificações de muito bom: 3 a peixes de captura e 4 a peixes de aquicultura, tendo sido provadas 5 amostras de captura e 27 amostras de aquicultura. O peixe proveio de 33 postos de venda, sendo que uma das amostras foi eliminada por deficiência de frescura. O peixe de aquicultura é menos rico em ácidos gordos do tipo ómega-3 que ajuda a reduzir o mau colesterol. Mas como o peixe de acquicultura é mais gordo, acaba por oferecer maior quantidade dos ácidos gordos saudáveis.

Em 6 postos de venda foram compradas douradas alegadamente de captura mas, laboratorialmente, provou-se que o peixe provinha de acquiculturas. O consumidor foi enganado!

É difícil distinguir a dourada de aquicultura da de captura, embora a dourada selvagem tenda a ser maior do que a de aquicultura. Dos 11 estabelecimentos que propunham douradas de captura, apenas 5 tinham realmente esse produto à venda.

Se a ASAE não aumentar as inspecções qual é o comportamento óptimo dos vendedores menos escrupulosos?...

Se é peninchense ou passar por Peniche aproveite as douradas da Peixaria Luísa Maria Castro Marques (Rua António Cervantes, nº9). É o estabelecimento que propõe as douradas de captura mais baratas (€13) e mereceram a classificação de muito bom dos provadores.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

sábado, 19 de julho de 2008

Uma dúvida orçamental...

A correcção orçamental resistirá ao arrefecimento da economia portuguesa?
(Por memória: o Banco de Portugal baixou as previsões de crescimento para 2008, de 2,0% para 1,2% , e para 2009, de 2,3% para 1,3%.)

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Cavaco Silva: Gato por lebre (II)?

Não podemos baixar os braços. O importante é que todos tenhamos a consciência que Portugal não conseguirá voltar a aproximar-se do nível de desenvolvimento médio da União Europeia se não aumentar a produção de bens e serviços transaccionáveis.
Declarações de Cavaco Silva, in L.A., "Cavaco fala das obras e da situação difícil do país", Público, 5 de Julho de 2009, p.10.

Acho que o Presidente da República pôs a mão na ferida da bolsa portuguesa com estas declarações. Podemos encontrar justificações técnicas para o desempenho da bolsa - saída de estrangeiros, execução de garantias em acções de investidores alavancados em dívida bancária, alteração das regras contabilísticas que transformam as menos-valias potenciais de investimentos dos bancos em prejuízos - mas a verdade é que o PSI-20 reflecte uma economia com carências na "produção de bens e serviços transaccionáveis".

Basicamente no PSI-20 encontramos a banca, empresas de distribuição, cimenteiras e construtoras, produção e distribuição de electricidade, exploração de auto-estradas, refinação de petróleo, papeleiras, media. Não será pouco? E sobretudo não serão sectores protegidos e pouco exportáveis?

O Presidente da República considera, no fundo, que é pouco e que não favorece o nosso desenvolvimento. O desempenho do PSI-20 não reflectirá estes estrangulamentos internos?

segunda-feira, 16 de junho de 2008

A lição de economia política de Silva Lopes

José Silva Lopes, ex-Governador do Banco de Portugal e ex-Ministro das Finanças, dá uma lição de Economia Política no Jornal de Negócios de hoje. Num artigo longo de 4 páginas, Silva Lopes analisa os efeitos negativos do 3º choque petrolífero da economia portuguesa. Em síntese temos os seguintes aspectos:
- Expoliação da riqueza nacional. Se o governo acertar na actual previsão de 115,5 dólares/barril para 2008, esta cotação média está 24% acima do preço médio de 2007 e isso pode significar 1200 milhões de euros adicionais com a factura energética. Aquela quantia corresponde a uma perda pura da economia nacional, a favor dos nosso fornecedores externos de energia. É desvantajoso baixar o ISP porque isso embarateceria artificialmente os combustíveis, aumentando o seu consumo. É preciso moderar o consumo energético.
- Enfraquecimento da economia. O crescimento económico retrai-se, a evolução mais simpática dos salários reais paga-se no desemprego mais pesado.
- Aumento das contendas sociais. O episódio das lutas dos camionistas ilustra a tentativa de passar a "batata quente" das perdas para terceiros (depois dos camionistas podem seguir-se os agricultores, os pescadores, os taxistas e outros "prejudicados"). O Governo deve evitar ceder, visto que 1) ou agrava o problema ou 2) é injusto nas transferências sociais das dificuldades. Não é de enjeitar subsidiar passes sociais ou o consumo de electricidade das famílias mais pobres.
- Bye-bye política económica. O escudo já não existe quase há 10 anos e portanto não podemos desvalorizar a moeda nacional. A política monetária é decidida por Frankfurt e portanto não podemos baixar as taxas de juro. Não existe espaço de manobra nas contas públicas para expansionismos. Silva Lopes escreve "Muitos dos políticos que temos consideram natural que o Estado continue a endividar-se indefinidamente a ritmo acelerado, como sempre tem sucedido desde o 25 de Abril, e em particular durante os governos dos últimos 15 anos anteriores à data de posse do actual" (p.11; sublinhado pessoal). Descodificação: o "monstro" tem a sua paternidade em Aníbal Cavaco Silva; a desinflação dos anos 90 foi conseguida pela apreciação real (e por vezes mesmo nominal) do escudo, com o OE a "almofadar" as dificuldades.
- Mini pacote de wishful thinking. Era bom que o endividamento da economia portuguesa continuasse a um ritmo mais moderado e que os salários de topo não fossem tão elevados porque a desigualdade ricos-pobres é cada mais vergonhosa.

Nada das 3 páginas de texto inspira óptimismo. O défice externo e o endividamento crescente da economia portuguesa não pode conhecer um hard landing qualquer? Silva Lopes observa: "Temos certamente de continuar a endividar-nos no exterior. Não sabemos todavia qual é a margem que ainda nos resta. Antes de ela se esgotar, aparecerão substanciais aumentos de "spreads" nas taxas de juro exigidas pelos financiadores externos. Em qualquer caso, seria altamente imprudente que viéssemos a gastar essa margem a ritmos mais acelerados do que no passado recente" (p. 9; sublinhados pessoais). Esta passagem é lúgubre: Daqui a algum tempo (1 ano? 3 anos? 10 anos?) acaba-se o crédito e, como vivemos à base de crédito alheio, vai ser o sarilho total? Não conhecemos a data do Armagedon, mas iremos ter alguns sinais: o aumento dos "spreads", ou seja, o encarecimento do crédito que ainda vamos conseguindo, relativamente ao preço do dinheiro noutras paragens da Zona Euro... Silva Lopes aconselha a não abusarmos no "consumo do azeite": ao menos que não aceleremos o acesso ao crédito.

Numa entrevista Silva Lopes analisava 2 empurrões recentes da economia portuguesa: o afluxo de IDE a seguir à adesão à CEE (Portugal estava na moda, não era?) e a quebra das taxas de juro, com o correspondente boom de endividamento e do consumo público e privado. E o economista observava que não vislumbrava nenhum empurrão para o futuro próximo. No artigo de hoje, subentende-se que o autor continua a não vislumbrar nenhuma luz ao fundo do túnel.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

A cotação do brent

De acordo com o último relatório da britânica BP, Portugal consome 344 mil barris de petróleo por dia, o que significou uma factura diária de 18 milhões de euros em 2007, considerando o valor médio do barril de 'brent' e da moeda única nesse período. Hoje, o país está a pagar 21 milhões de euros pelos mesmos barris de petróleo, ou seja, mais três milhões todos os dias.
Fonte: Artigo citado do Diário Económico .
Nota: Um barril tem 159 litros.

Adenda: Actualização das cotações do Brent: aqui.

terça-feira, 22 de abril de 2008

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Citação

Musicians should earn royalty fees for 95 years, up from the current 50-year limit, an EU official said, promising to draft new copyright-protection rules.

Wall Street Journal (Europa), 15 a 17 de Fevereiro de 2008.


Que grande disparate! A não ser que o prolongamento dos direitos de autor aumente a criatividade ou a natalidade... Ou haverá outros benefícios?

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Uma brisa suave?

Ao consultar a tabela com o comportamento do PSI 20 no princípio deste ano, podemos observar que a Brisa funcionou como um valor de refúgio na tormenta bolsista. A Brisa quase que não perdeu valor, quando o índice PSI 20 teve uma quebra de 14,4%. Como podemos interpretar este desempenho?

Não faço a mais pequena ideia! Esclarecimentos são bem-vindos...

No entanto tranquiliza o comportamento da Brisa. A empresa opera num mercado monopolista - o das auto-estradas - reforçado com a aquisição das Auto-Estradas do Atlântico em 2006. O crescimento das suas receitas é limitado pelo aumento das tarifas - que tem igualado a inflação verificada - e pelo comportamento regular da procura. Isto significa que há-de ser relativamente fácil descontar os proveitos futuros (esperados) da empresa, para obter o seu valor de mercado e o das correspondentes acções.

A estabilidade da Brisa transmite alguma credibilidade ao mercado de capitais. O potencial da empresa é razoavelmente balizado e parece que a sua cotação em bolsa não é facilmente inflacionada. Claro que se ela desatar a endividar-se e a adquirir auto-estradas no estrangeiro, deverá surgir muito mais "ruído" em torno da sua cotação.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Negócios na bolsa?

O Diário Económico de hoje, num artigo de Pedro Latoeiro e Tiago Figueiredo Silva ("As cinco acções para investir durante a crise"), revela preços-alvo médios, calculados a partir de dados disponibilizados por 20 casas de investimento, concluindo que existem boas oportunidades de investimento na Bolsa. O Top 5 para os próximos 12 meses é constituído por:
1º Sonae Indústria, com preço-alvo médio de €11,15 (o que corresponde a uma valorização de 145,1%);
2º BPI, com preço-alvo médio de €5,69 (valorização de 80,1%);
3º Sonaecom, com preço-alvo médio de €4,32 (valorização de 71,8%);
4º Semapa, preço de €13,27 (valorização de 66,2%);
5º Altri, preço de €7 (valorização de 66,2%).

Ao longo do tempo surgirão novidades, favoráveis ou desfavoráveis para estas previsões...

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Comportamento recente do PSI 20

A bolsa portuguesa teve um desempenho negativo no início de 2008, tal como a maioria das suas congéneres. Nas primeiras 5 semanas do ano o PSI 20 caíu de 13.019,36 (31 de Dezembro de 2007) para 11.138,69 pontos (7 de Fevereiro de 2008), numa quebra de 14,4%. A tabela revela o desempenho das acções que compõem o índice.


quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Comportamento das bolsas

A crise do subprime ameaça o comportamento da economia real e as bolsas têm reflectido em 2008 a incerteza da evolução económica.

Ontem o jornal Público dava conta da queda verificada no PSI 20 na véspera - 5,83 por cento, o que excede a quebra ocorrida a 11 de Setembro de 2001 (4,46 por cento) e é a maior queda verificada numa sessão da bolsa portuguesa desde 1998. A queda de 2ª feira 21 de Janeiro arrasta o PSI 20 para baixo dos 11.000 pontos (10.823,10), para níveis de Dezembro de 2006.

O artigo referido traz um gráfico com a evolução do PSI 20 de 3 de Janeiro de 2000 até 21 de Janeiro de 2008. O gráfico é uma "bela" curva em U, com 8 anos a significarem simplesmente uma valorização nula: partimos de um índice com o valor aproximado de 10.800 pontos, para acabarmos agora nessa ordem de grandeza. No interim o índice atingiu o valor mínimo de cerca de 5.500 pontos, algures em 2003.

Além do gráfico do PSI 20 o artigo de Anabela Campos e Sérgio Aníbal ("Crash leva bolsas a quebras que rivalizam com o 11 de Setembro") também reproduz gráficos de outras bolsas. Encontramos as curvas em U pela Europa fora (Espanha-IBEX 35, França-CAC 40, Alemanha-DAX, Inglaterra-FTSE, Itália-S&P/MIB, Dow Jones STOXX 50) e também no Japão-Nikkei 225 e Hong Kong. A surpresa encontramos na América do Norte, no Canadá, com o Toronto SE 300 a passar de cerca de 8.000 para 12.000 pontos e no Brasil, com o São Paulo SE Bovespa isento do efeito de curva em U, e a passar de cerca de 10.000 pontos para 50.000. O gráfico do Brasil abre o apetite para saber como se tem comportado o resto do grupo BRIC.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

"Where is the next bubble we can short?"

Na semana passada um artigo do Wall Street Journal dava conta de um verdadeiro vencedor da crise do subprime: John Paulson, um gestor de fundos de hedging que apostou na desgraça do mercado de crédito de alto risco para financiamento da compra de habitação própria. A história é relatada num artigo de Gregory Zuckerman em “House Money: How a trader made billions on subprime downturn”, WSJ, 16 de Janeiro de 2008, vol. XXV, nº 243, pp.14-15.

Como não se podem vender a descoberto casas (“you can’t short houses”), Paulson teve de encontrar técnicas para ganhar com a quebra dos preços das casas, e com o incumprimento dos créditos. E fê-lo com sorte no timing, visto que não apostou demasiado cedo no descalabro do mercado.

Os créditos imobiliários foram “amalgamados” em collateralized debt obligations (CDOs), que foram transaccionadas em fatias com risco desigual em Wall Steet. O risco dos CDOs podia ser coberto com a compra de credit-default swaps. Quanto maior fosse o risco do CDOs, maior era o custo do swap que o cobria. E o aumento do risco de incumprimento fazia aumentar o preço dos swaps.

John Paulson encontrou na venda a descoberto de CDOs e na compra de credit-default swaps os meios para especular. O aumento do risco de incumprimento conduz à perda de valor dos CDOs (vendidos a descoberto) e ao aumento do valor dos swaps (comprados). E no início da bolha os swaps eram baratos.

Em Julho de 2007 surgiu um índice que reflecte o valor de um cabaz de créditos hipotecários de alto risco realizados nos seis meses anteriores. Paulson tomou posições curtas sobre esse índice (ABX), apostando portanto na perda do seu valor. De Julho de 2006 para meados de Janeiro de 2008 esse índice passou de 100 para um pouco menos de 20.

Os fundos geridos por John Paulson (conhecido por J.P., com 51 anos) subiram 15 mil milhões de dólares em 2007, sendo o lucro pessoal do gestor de 3 a 4 mil milhões de dólares. Em 1994 o gestor iniciou o seu próprio fundo de hedging, centrado nos negócios de M&A; com um capital inicial de 5 milhões de dólares, atingiu o valor de 500 milhões de dólares em 2002, combinando rendimentos alcançados e capital fresco dos investidores. Foi em 2005 que Paulson começou a apostar contra o mercado de habitação, tendo perdido inicialmente dinheiro. Mas a resposta ás perdas iniciais baseou-se num aumento da especulação. Em Janeiro de 2006 o gestor compreendeu que os créditos hipotecários agressivos eram correntes na economia.

John Paulson continua a apostar nas tormentas económicas. Ele considera que os preços do imobiliário vão demorar anos para recuperarem e encontra nos cartões de crédito e no crédito automóvel áreas de perturbação financeira. “He tells investors “it’s still not too late” to bet on economic troubles.” Recentemente Paulson contratou Alan Greenspan, antigo presidente da FED, como conselheiro. Alan Greenspan tem sido criticado por ter mantido a taxa de juro baixa por demasiado tempo, alimentando a bolha do imobiliário.