quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Comportamento das bolsas

A crise do subprime ameaça o comportamento da economia real e as bolsas têm reflectido em 2008 a incerteza da evolução económica.

Ontem o jornal Público dava conta da queda verificada no PSI 20 na véspera - 5,83 por cento, o que excede a quebra ocorrida a 11 de Setembro de 2001 (4,46 por cento) e é a maior queda verificada numa sessão da bolsa portuguesa desde 1998. A queda de 2ª feira 21 de Janeiro arrasta o PSI 20 para baixo dos 11.000 pontos (10.823,10), para níveis de Dezembro de 2006.

O artigo referido traz um gráfico com a evolução do PSI 20 de 3 de Janeiro de 2000 até 21 de Janeiro de 2008. O gráfico é uma "bela" curva em U, com 8 anos a significarem simplesmente uma valorização nula: partimos de um índice com o valor aproximado de 10.800 pontos, para acabarmos agora nessa ordem de grandeza. No interim o índice atingiu o valor mínimo de cerca de 5.500 pontos, algures em 2003.

Além do gráfico do PSI 20 o artigo de Anabela Campos e Sérgio Aníbal ("Crash leva bolsas a quebras que rivalizam com o 11 de Setembro") também reproduz gráficos de outras bolsas. Encontramos as curvas em U pela Europa fora (Espanha-IBEX 35, França-CAC 40, Alemanha-DAX, Inglaterra-FTSE, Itália-S&P/MIB, Dow Jones STOXX 50) e também no Japão-Nikkei 225 e Hong Kong. A surpresa encontramos na América do Norte, no Canadá, com o Toronto SE 300 a passar de cerca de 8.000 para 12.000 pontos e no Brasil, com o São Paulo SE Bovespa isento do efeito de curva em U, e a passar de cerca de 10.000 pontos para 50.000. O gráfico do Brasil abre o apetite para saber como se tem comportado o resto do grupo BRIC.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

"Where is the next bubble we can short?"

Na semana passada um artigo do Wall Street Journal dava conta de um verdadeiro vencedor da crise do subprime: John Paulson, um gestor de fundos de hedging que apostou na desgraça do mercado de crédito de alto risco para financiamento da compra de habitação própria. A história é relatada num artigo de Gregory Zuckerman em “House Money: How a trader made billions on subprime downturn”, WSJ, 16 de Janeiro de 2008, vol. XXV, nº 243, pp.14-15.

Como não se podem vender a descoberto casas (“you can’t short houses”), Paulson teve de encontrar técnicas para ganhar com a quebra dos preços das casas, e com o incumprimento dos créditos. E fê-lo com sorte no timing, visto que não apostou demasiado cedo no descalabro do mercado.

Os créditos imobiliários foram “amalgamados” em collateralized debt obligations (CDOs), que foram transaccionadas em fatias com risco desigual em Wall Steet. O risco dos CDOs podia ser coberto com a compra de credit-default swaps. Quanto maior fosse o risco do CDOs, maior era o custo do swap que o cobria. E o aumento do risco de incumprimento fazia aumentar o preço dos swaps.

John Paulson encontrou na venda a descoberto de CDOs e na compra de credit-default swaps os meios para especular. O aumento do risco de incumprimento conduz à perda de valor dos CDOs (vendidos a descoberto) e ao aumento do valor dos swaps (comprados). E no início da bolha os swaps eram baratos.

Em Julho de 2007 surgiu um índice que reflecte o valor de um cabaz de créditos hipotecários de alto risco realizados nos seis meses anteriores. Paulson tomou posições curtas sobre esse índice (ABX), apostando portanto na perda do seu valor. De Julho de 2006 para meados de Janeiro de 2008 esse índice passou de 100 para um pouco menos de 20.

Os fundos geridos por John Paulson (conhecido por J.P., com 51 anos) subiram 15 mil milhões de dólares em 2007, sendo o lucro pessoal do gestor de 3 a 4 mil milhões de dólares. Em 1994 o gestor iniciou o seu próprio fundo de hedging, centrado nos negócios de M&A; com um capital inicial de 5 milhões de dólares, atingiu o valor de 500 milhões de dólares em 2002, combinando rendimentos alcançados e capital fresco dos investidores. Foi em 2005 que Paulson começou a apostar contra o mercado de habitação, tendo perdido inicialmente dinheiro. Mas a resposta ás perdas iniciais baseou-se num aumento da especulação. Em Janeiro de 2006 o gestor compreendeu que os créditos hipotecários agressivos eram correntes na economia.

John Paulson continua a apostar nas tormentas económicas. Ele considera que os preços do imobiliário vão demorar anos para recuperarem e encontra nos cartões de crédito e no crédito automóvel áreas de perturbação financeira. “He tells investors “it’s still not too late” to bet on economic troubles.” Recentemente Paulson contratou Alan Greenspan, antigo presidente da FED, como conselheiro. Alan Greenspan tem sido criticado por ter mantido a taxa de juro baixa por demasiado tempo, alimentando a bolha do imobiliário.