sábado, 22 de dezembro de 2007

Uma diferença eloquente?

Fonte: Alea do INE (link na lista das Fontes).

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Divergência relativa?

O Eurostat revelou dados relativos à evolução do PIB per capita na UE. O PIB per capita português em 2006 foi 75% da média da UE a 27 (a comparação é feita em unidades de poder de compra, para corrigir a disparidade de preços entre os diversos países).

A estatística de 2006 iguala exactamente a verificada em 2004. E o que é que verificamos para os restantes países da coesão? A Irlanda, a Espanha e a Grécia reforçam a respectiva percentagem em 4 pontos percentuais. A Irlanda passa de 142% para 146% da média da UE, a Espanha passa de 101% para 105% e a Grécia de 94% para 98%.

O grupo dos países que não alteraram a sua posição de 2004 para 2006 inclui, além de Portugal, a Dinamarca, a Suécia, a Finlândia, a França e Malta.

A República Checa ultrapassou-nos (de 2004 para 2006 passou de 75% da média europeia para 79%). Como a Estónia tem subido à razão de 6 pontos percentuais por ano (de 57% para 69%), em breve ultrapassa-nos...

Em 2007 somos o país mais pobre da zona euro e em 2008, com a entrada de Malta e de Chipre, manteremos essa posição. A zona euro tinha sido idealizada para ser o clube dos ricos europeus e agora, com o alargamento da UE para 27 membros, isso está claramente a acontecer. Em 2006 o PIB per capita da zona Euro é 110% do PIB da UE a 27. A zona euro terá 15 países a partir de Janeiro próximo.

Documento do Eurostat: aqui, ou aqui.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Leilão de BT

Portanto temos uma emissão de BT de 300 milhões de euros pelo IGCP, pelo prazo redondo de 1 ano, à taxa de juro (média ponderada) de 3,981%. Para conseguir colocar os 400 milhões de euros previstos, o IGCP teria de ter aberto um bocadinho mais os cordões à bolsa para oferecer uma remuneração mais elevada. Ao ler a notícia ficam algumas curiosidades por esclarecer: (1) qual foi a "tranche" colocada à taxa de juro mais baixa? Qual foi o valor dessa taxa de juro mais baixa? Mesma pergunta para a "tranche" mais dispendiosa. Quem subscreveu estes BT? Bancos nacionais ou bancos estrangeiros? Aposto que foram bancos estrangeiros. Algumas das respostas a estas perguntas encontram-se no site do IGCP: www.igcp.pt.
Perguntinha: Admitindo o prazo de um ano, qual é o juro que vai ser devido neste empréstimo?

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Dados das empresas...

O Banco de Portugal publicou (...) ontem os dados da sua central de balanços trimestral. Na primeira metade de 2007, as vendas das empresas portuguesas cresceram a um ritmo mais lento (quatro por cento) do que no mesmo período do ano passado (5,2 por cento). Ainda assim, os lucros obtidos subiram mais, principalmente devido ao ritmo mais lento dos custos com o pessoal e dos consumos intermédios.

Em 2006, com base nos dosados recolhidos junto de quase 300 mil empresas a partir da Informação Empresarial Simplificada, é possível saber que os lucros das empresas cresceram 5,2 por cento face ao ano anterior, ao passo que os custos com pessoal aumentaram 4, por cento.

Sérgio Aníbal, " Crise financeira fez disparar juros dos créditos em Portugal", Jornal Público, 23 de Novembro de 2007 (edição nº 6447), p. 45.

sábado, 27 de outubro de 2007

Problemas no "franchising"...

Pagamentos com prazos curtos, "royalties" elevados e margens negativas
asfixiam a gestão das franquias da BP


Os franchisados de postos da BP localizados nas zonas da Grande Lisboa e do Grande Porto e no Norte do país queixam-se ao Expresso das regras "asfixiantes" impostas nos contratos com a BP, que lhes inviabilizam lucros. No entanto, o porta-voz da BP refere que a empresa desconhece estes casos e que nenhum dos franchisados está em situação de falência.

Mas os franchisados confirmam as dificuldades: "Paguei 70 mil euros para aceder ao franchising de um posto de abastecimento da BP, porque me deramm perspectivas de um plano de negócio com um resultado de 360 mil euros ao fim de seis anos, mas, em vez de ter lucros, estou a chegar ao fim do prazo de exploração [de 7 anos] com um prejuízo acumulado de 120 mil euros", denuncia um franchisado da zona da Grande Lisboa. "Como não aceito isto, se nada for feito, levo a questão para tribunal", diz.

Com pequenas variações, este exemplo repete-se em vários franchisados, sendo mais grave no Norte, onde há casos em que os prejuízos se aproximam dos 200 mil euros. Umas das causas deste problema tem a ver com as elevadas margens cobradas pela BP na transacção de alguns produtos, cujo preço de venda ao público não cobre o valor pago pelo franchisado ao respectivo fornecedor.

A compra de tabaco, onde os franchisados têm margens muito negativas, é uma das situações mais gritantes.

De resto, este é problema não é recente. Ocorre há, pelo menos, cinco anos, altura em que o primeiro franchisado, de um posto de Carcavelos, teve de sair por incompatibilidade do negócio.

Mesmo assim a fonte oficial da BP considera que nos 27 postos franchisados pela companhia - sobre os quais só ainda não dispõe de informações completas em relação a dois - "não há qualquer problemas na gestão dos postos", sublinhando que não se conhece "um único caso onde tenham sido identificados prejuízos com dívidas que correspondam a situações de falência". E adianta que a BP acompanha estes postos, em diáloogo permanente com os franchisados.

J. F. Palma-Ferreira, "Franchisados em ruína queixam-se da BP", Semanário Expresso, 20 de Outubro de 2007, Suplemento de Economia, p.11.

sábado, 13 de outubro de 2007

Crescimento com equilíbrio orçamental?

Faz este ano 50 anos que o economista Manuel Jacinto Nunes defendeu a tese de doutoramento segundo a qual o crescimento económico é possível mesmo com equilíbrio orçamental, uma revolução à altura, quando os conceitos dominantes, de John Maynard Keynes, eram de que a despesa pública era o principal dinamizador das economias.

Fernanda Pargana, "Manuel Jacinto Nunes: O economista filósofo", Semanário Expresso, Suplemento de Economia, 5 de Outubro de 2007, pp.20-21.

Jacinto Nunes foi Ministro das Finanças, Governador do Banco de Portugal e Presidente da Caixa Geral de Depósitos. Com 81 anos Jacinto Nunes é um dos economistas decanos portugueses. José da Silva Lopes e Teodora Cardoso (que são mais jovens!) também são reputados economistas.

sábado, 22 de setembro de 2007

A evolução do emprego em Portugal (II)

Onde estão os 150 mil novos postos de trabalho até 2009? Teixeira dos Santos coloca o eventual cumprimento desta meta – que começou por ser uma promessa eleitoral de José Sócrates – nas mãos do crescimento.

Perante a pergunta da jornalista da RTP Judite de Sousa, Teixeira dos Santos começou por sublinhar a elevada taxa de desemprego (actualmente nos 8,2% da população activa) resulta, não de uma destruição de emprego, mas da incapacidade de conseguir criar empregos suficientes para absorver toda a população activa actual.

"Se no passado, grande parte do desemprego resultava de perda de emprego, agora criamos empregos", argumentou. Em segundo lugar, referiu que é preciso que as pessoas melhorem as suas qualificações, aumentando a sua empregabilidade, numa alusão ao programa Novas oportunidades.

Por fim, sem reafirmar a promessa de criação de 150 mil postos de trabalho até 2009, disse esperar que esse fosse o resultado crescimento económico. Por isso, "a meta dos 150 mil empregos não pode ser afastada", concluiu.


Jornal de Negócios on-line, 20 de Setembro de 2007, artigo não assinado e baseado na entrevista do Ministro das Finanças Teixeira dos Santos a Judite de Sousa na RTP, realizada na véspera.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

O Euro vai destronar o dólar?

Os Estados Unidos devem em grande parte a sua predominância no mundo da finança internacional ao estatuto do dólar como moeda de referência. Os compromissos da América em prol da economia liberal, do Estado de Direito e da estabilidade monetária conferem credibilidade ao dólar como reserva de valor. Mas os hábitos de consumo dos americanos têm minado a reputação do dólar, ao mesmo tempo que o excesso de oferta de dólares nos mercados mundiais tem diminuído o seu valor. O euro atingiu esta primavera [em Abril de 2007] uma cotação recorde em relação ao dólar, e os bancos centrais aumentaram a proporção da moeda europeia nas suas reservas em divisas internacionais. O dólar estará no ponto de perder o seu título de rei da finança mundial em proveito do euro?

Os precedentes históricos sugerem que não é o caso, apesar da vulnerabilidade actual do dólar.

A supremacia da moeda americana no século XXI aparenta-se à situação do Reino Unido na finança mundial há um século. Antes do início da Primeira Guerra Mundial em Agosto de 1914, a libra esterlina era a moeda correntemente utilizada para as transacções internacionais, como o dólar é-o hoje, e os investidores do mundo inteiro visitavam a City de Londres para obter capitais.

O economista britânico John Maynard Keynes temia que as nações cessassem de utilizar a libra para pagar as suas transacções internacionais se a divisa inglesa não fosse vista como uma reserva de valor segura. “O futuro da City”, de acordo com Keynes, dependia da capacidade da libra esterlina continuar a servir o mundo dos negócios como equivalente ao ouro. O Reino Unido manteve a convertibilidade da sua moeda em ouro até ao início do conflito mundial para preservar a sua credibilidade como meio de pagamento internacional.

O dólar não podia pôr em causa o papel da libra esterlina como moeda internacional sem igualar o seu prestígio. Agosto de 1914 forneceu a ocasião. A mais importante perda de ouro numa geração pôs em perigo a capacidade dos Estados Unidos de honrar as suas dívidas com o exterior. O temor que os Estados Unidos abandonassem o padrão-ouro provocou um desmoronamento do dólar nos mercados mundiais.

Mas o Secretário do Tesouro, William G. McAdoo, salvou a honra financeira da América em Agosto de 1914 continuando a ser fiel ao padrão-ouro, apesar de todos os países, com excepção do Reino Unido, terem abandonado as suas obrigações de convertibilidade. Apesar da credibilidade instantânea concedida ao dólar, foi necessário mais de uma década para a divisa americana se equiparar à libra esterlina como um meio de pagamento internacional. Os hábitos de pagamento alteram-se à mesma velocidade que funde um glaciar.

A transformação do Reino Unido, de credor internacional em devedor internacional durante a Grande Guerra, deu ao dólar um segundo fôlego na sua competição com a libra. Em Abril de 1919 os Britânicos foram forçados a abandonar a convertibilidade em ouro - uma retirada táctica que tinha por objectivo preparar o regresso à antiga paridade de 4.8665 dólares por libra. Seis anos mais tarde, em Abril de 1925, o Reino Unido confirmava a sua credibilidade monetária, regressando ao padrão-ouro. Mas a libra esterlina já tinha sofrido prejuízos irreparáveis.

O exemplo de 1914 mostra que uma alternativa credível pode substituir uma moeda internacional entrincheirada, sobretudo depois dela ter sido enfraquecida por uma balança comercial deficitária. Mas mesmo neste caso, destronar a moeda soberana das trocas internacionais toma tempo.

Hoje, o euro - uma divisa que não depende de um só país - não tem um historial de credibilidade. Treze países da União Europeia utilizam o euro. Mas o compromisso destas entidades políticas independentes para com o euro não é comparável ao compromisso dos Estados Unidos para com o dólar.

O Banco Central Europeu, estabelecido em 1998, tem um mandato para gerir o euro de maneira a manter a estabilidade dos preços. Mas o BCE necessita de tempo para obter as suas credenciais relativamente à luta contra a inflação. Não pode aproveitar a boleia do ouro, como os Estados Unidos fizeram há um século. A moeda única europeia deve assim construir a sua reputação, vencendo as crises que surjam, para pôr em causa a predominância do dólar como instrumento de predilecção nas transacções internacionais.

O desempenho recente do euro como moeda de reserva oficial é instrutivo. Entre 2000 e 2005, o dólar perdeu mais de 25 por cento do seu valor face ao euro. No mesmo período, a fracção das reservas internacionais detidas em euros passou de 18 para 24 por cento, e a parte do dólar caiu de 71 para 66 por cento. Embora a moeda europeia tenha progredido manifestamente durante este período de défices da balança de pagamentos americana, esta evolução constitui mais um declínio da posição do dólar do que uma mudança revolucionária de regime.

O que é o que poderia provocar uma tendência fatal ao dólar nos mercados mundiais? Embora uma venda maciça e inesperada de dólares por detentores estrangeiros importantes - como a China, por exemplo - pareça improvável, um acontecimento devastador, análogo à Grande Guerra de 1914, poderia levar a procurar um novo instrumento monetário internacional. Nesta época de pagamentos automatizados, uma perturbação poderia ser provocada por um ataque terrorista que destruísse as capacidades de transferências informatizadas do sistema bancário mundial. A perda catastrófica dos dados informáticos poderia certamente arruinar a credibilidade do dólar como o meio de pagamento internacional.

A pergunta põe-se, no entanto, de qual seria a divisa que substituiria o dólar naquelas circunstâncias. Com efeito, o desaparecimento dos dados informáticos seria igualmente prejudicial ao euro. Talvez o ouro, uma reserva de valor insensível aos riscos físicos, poderia fazer o seu grande regresso. Obviamente, podemos apenas esperar que este cenário permaneça uma pura conjectura.


William L. Silber, "Will the Euro Dethrone the dollar?", Project Syndicate, Julho de 2007 (disponível em http://www.project-syndicate.org/ ).

terça-feira, 3 de julho de 2007

Quem manda no Euro?

Para construir aviões na Europa é necessário depreciar o euro, explicou Nicolas Sarkozy, sábado dia 23 de Junho, na feira Bourget: “Peço para fazer com o euro o que fazem os americanos com o dólar, os chineses com o yuan, os japoneses com o iene, os ingleses com a libra.” O presidente francês, aliás, estará presente no próximo ECOFIN, o Conselho de Ministros das finanças da União Europeia (UE), a 10 de Julho. Entre os assuntos que conta abordar: “Não se pode ser a única zona do mundo onde a moeda não é posta ao serviço do crescimento.”

Sarkozy poderá impor aos outros membros da zona euro, maioritariamente preocupados com a ortodoxia monetária, uma estratégia de depreciação do euro? Alguns, como a Alemanha, adaptam-se melhor ao seu valor, através de um acréscimo de competitividade. “As ideias de Nicolas Sarkozy sobre o euro são interessantes, mas para utilizar o euro como ele deseja é necessário realizar em primeiro lugar a Europa fiscal e política…”, nota Sylvain Broyer, economista em Natixis.

No entanto os ministros das finanças europeus tentaram, nos últimos anos, ter mais voz nesta matéria, face ao presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, que afirma regularmente: “Sr. Euro, sou eu.“ A ambiguidade é que, nos termos do artigo 111.2 do Tratado de Amesterdão, “as orientações gerais de câmbio” incumbem ao ECOFIN - no qual os ministros das finanças da zona euro formaram um Eurogrupo -, mas não somente: o BCE deve primeiro emitir uma recomendação ou deve ser consultado com base numa recomendação da Comissão Europeia.

Para que o poder político ganhe mais peso, “teria sido melhor criar um ministro dos assuntos económicos da UE em vez de um ministro dos negócios estrangeiros (no tratado simplificado adoptado a 23 de Junho), pelo menos para gerir os dossiers das políticas comuns dos quais faz parte evidentemente o câmbio”, considera Jean-Pierre Patat, conselheiro do Centro de estudos prospectivos e de informações internacionais (Cepii) e antigo Director-Geral do Banco de França, responsável dos estudos e das relações internacionais.

Mas as "orientações de câmbio” estão, de qualquer modo, muito enquadradas: não devem afectar “a manutenção da estabilidade dos preços”, diz o artigo 111.2, [e] uma depreciação monetária aumenta os preços das importações. Impor um objectivo de câmbio preciso poderia ameaçar a independência do BCE sobre as taxas de juro. Ora “Sarkozy disse que não pedia uma mudança de mandato do BCE e que não queria tocar na (sua) independência", recordou Trichet quinta-feira dia 7 de Junho.

No sistema de câmbios flutuantes que governa as grandes moedas – excepto o yuan – os bancos centrais coordenam-se apenas para corrigir as situações extremas, julgadas aberrantes, por intervenções excepcionais e concertadas no mercado cambial: em Setembro de 2000, o BCE e a Reserva Federal americana compraram assim euros e venderam dólares, para arrebitar a moeda única, caída a 0,89 dólares.

No entanto o Banco do Japão escolheu outra via, enfraquecendo a sua divisa por intervenções unilaterais e repetidas no mercado cambial, com taxas de juro muito baixas e com um discurso desencorajando o uso do iene como moeda de reserva. Mas o Arquipélago Japonês foi confrontado com o caso particular de um longo período de deflação. “A zona euro não tem interesse em desencorajar a continuação de um uso crescente do euro como moeda de reserva, que é natural. O peso do euro é a única razão que conduziria os Estados Unidos a ter uma política mais cooperativa a seu respeito: o mercado obrigacionista europeu, mesmo fragmentado, é o único a disputar os mesmos recursos que o dos Estados Unidos ", considera Patat. Será difícil, para Sarkozy, afrouxar o torno.


Adrien de Tricornot, "Euro: le rêve d'une dépréciation compétitive", jornal Le Monde, 3 de Julho de 2007, p. II do suplemento de economia.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

As causas da inflação

Meados de 1982 [em França]: a inflação, que reduz a competitividade do país e acentua o défice comercial, tornou-se o problema mais grave. Para a conter, confrontam-se duas escolas. De um lado os defensores da inflação pela procura: para eles, a alta dos preços traduz uma procura excessiva que é preciso reduzir, limitando a quantidade de moeda em circulação. Do outro, os defensores da inflação pelos custos. Segundo eles, a inflação é devida à repercussão nos preços [dos bens e serviços] dos aumentos mal geridos dos salários. Os primeiros defendem o recurso a uma política monetária restritiva, isto é, a um aumento severo das taxas de juro. Para os segundos, uma tal política é contra-indicada, pois ela comprime a procura de uma forma brutal e indiferenciada. Se ela reduz as importações e favorece o regresso ao equilíbrio externo, ela também reduz o mercado das empresas nacionais e aumenta, portanto, o desemprego. Nestas condições, a política indicada para lutar contra a inflação é a política de rendimentos, isto é, a evolução negociada dos salários. Em Julho de 1982 o governo impõe um modelo de política de rendimentos, através de uma lei bloqueando preços e salários. Mas em Março de 1983 o endurecimento do rigor muda o jogo: é a política monetária que se impõe. Por que razão se abandonou tão cedo a política de rendimentos? Por engano, sustenta nas vésperas da sua morte (em 1983), Sidney Weintraub, teórico da inflação pelos custos.

Sidney Weintraub nasce em Nova Iorque em 1914. O seu percurso é clássico: London School of Economics em Londres, Columbia University em Nova Iorque, doutorado em 1941 e, a partir de 1952, professor na Universidade da Pensilvânia. Discipulo convicto de Keynes, opõe-se a
[Paul] Samuelson. Ele acusa-o de deformar o keynesianismo, em particular pela adopção da curva de Phillips, ou seja, da ideia de uma relação inversa entre a taxa de desemprego e a taxa de inflação. Mas o seu alvo privilegiado é o monetarismo. Para Weintraub, é um engano fazer da inflação um fenómeno principal ou exclusivamente monetário, pois ela é a consequência dos confrontos entre os grupos sociais à volta da repartição do rendimento nacional.

Weintraub substitui a equação quantitativa da moeda, que liga os aumentos dos preços aos empolamentos da massa monetária, por uma equação associando os preços e os salários (ou seja p = k w /A, onde p representa os preços, w os salários, A a produtividade e k é uma constante própria de cada país). Portanto, evita-se a inflação negociando com os sindicatos uma evolução das remunerações de acordo com a da produtividade. Quanto aos sucessos atribuidos à política monetária, eles resultam de um mecanismo malsão: uma restrição monetária provoca falências de empresas e desemprego, o que amolece a determinação reivindicativa dos trabalhadores. No seu livro
Capitalism's Inflation and Unemployment Crisis, saído em 1978 (na editora Addison-Wesley), Weintraub dá um modelo da política alemã dos anos 1970, isto é, uma política de rendimentos activa corroborada por um banco central independente. Para Weintraub, a independência do banco central é útil, pois ela incita os parceiros sociais a entenderem-se. Eles sabem, com efeito, que os falhanços da política de rendimentos serão sancionados por uma política monetária restritiva e portanto por desemprego. De um carácter difícil, que o faz qualificar por Samuelson de "lobo keynesiano solitário", mostrando-se muito condescendente relativamente aos monetaristas, Weintraub provoca muitos inimigos, ao ponto de não obter o prémio Nobel da economia, que lhe pareceria naturalmente devido.

Jean-Marc Daniel (professor na European School of Management), "Weintraub et la politique des revenus", jornal Le Monde, 13 de Junho de 2007, p. IV do suplemento de economia.

Notas explicativas:
A equação quantitativa da moeda referida no texto tem a seguinte expressão: M V = P T, onde M representa a moeda, P os preços, V a velocidade de circulação da moeda e T as transacções. Segundo os defensores da teoria quantitativa da moeda, os aumentos da moeda em circulação geram aumentos dos preços. Com efeito, os aumentos de M, com V constante, implicam aumentos de P T, para continuar a verificar-se a igualdade M V = P T. Ora se as transacções não se alterarem (ou pouco se alterarem), aumentos de M traduzem-se por aumentos dos preços - quando aumenta a moeda em circulação os preços dos bens e serviços aumentam, ou seja, ocorre inflação. Segundo estes economistas a inflação é apenas um problema monetário. Milton Friedman (1912-2006), prémio Nobel da Economia em 1976, foi um conhecido defensor desta teoria.

Perguntinhas:
a) Explique as duas teorias explicativas da inflação referidas no artigo.
b) Qual foi a resposta que as autoridades económicas francesas deram ao problema da inflação no princípio dos anos 1980?
c) Qual é a abordagem defendida pelo economista Sidney Weintraub?
d) No artigo é dada uma interpretação do sucesso da política monetária (conduzida por um banco central independente do poder político). Enuncie essa interpretação.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

A evolução do emprego em Portugal

Perguntinhas:
a) Obtenha os valores em falta na tabela.
b) Suponha que entre 2005 e 2009 a população empregada aumenta em 150.000, conforme o objectivo eleitoral anunciado pelo Partido Socialista, na campanha eleitoral para as legislativas de Fevereiro de 2005. Admitindo um valor razoável para a população activa para o 1º trimestre de 2009, mostre que a taxa de desemprego deve aumentar entre 2005 e 2009.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

A discriminação de preços na Air France-KLM

Já imaginou alguma vez que no voo Paris-Bordéus, por exemplo, o seu vizinho de lugar, em classe económica, sem reduções especiais, pôde pagar um bilhete cinco vezes mais barato do que o seu? É pouco provável! No entanto esta ocorrência é mais frequente do que se pensa e tem mesmo um nome: “yield management” ou, melhor, “revenue management”.

Por trás desta denominação esconde-se um dos métodos mais secretos, mas igualmente um dos mais estratégicos de Air France. Um método que, desde há numerosos anos, contribui para os bons resultados da companhia aérea num contexto económico desfavorável. Bem aplicadas, estas técnicas de gestão dos lugares dos aviões encontram rapidamente a sua tradução financeira: num sector ultra-concorrencial, onde as margens são relativamente fracas, representam lucros na ordem dos 5 a 7 por cento do volume de negócios da empresa.

Uma companhia aérea como a Air France-KLM deve poder contar com a eficácia de todas as suas equipas para fazer partir os aviões a horas, fazer voar os seus clientes nas melhores condições possíveis, fidelizá-los. Mas, para o seu balanço anual, há um imperativo incontornável: é necessário não apenas encher os aviões o mais possível, mas sobretudo ao melhor preço. Bruno Matheu, Director Geral Adjunto, encarregado do marketing e das redes, resume a situação: “Os lugares de avião são um produto perecível. Um lugar vazio é um lugar perdido.“

Era necessário por conseguinte um método que permitisse maximizar a “receita avião”, jogando ao mesmo tempo com a taxa de ocupação e com a receita unitária por lugar, ou seja, o preço pago pelo passageiro. A Air France nada tem de pioneira na matéria: nos meados dos anos 1990, a companhia nacional apresentava mesmo, neste domínio, um certo atraso em relação aos seus homólogos americanos e europeus.

Era necessário agir rapidamente. Em vez de desenvolver um sistema próprio, aAir France optou por comprar um sistema nos Estados Unidos e a escolha recaiu sobre o desenvolvido por Sabre, um dos grandes GDS (global distribuition system). “O "software" é bom, mas há também o "know how" dos analistas de Air France”, felicita-se Bruno Matheu.

O funcionamento do revenue management consiste em fazer a melhor arbitragem possível entre a utilização da lotação e a receita unitária (o preço por lugar). Trata-se, num primeiro momento, de definir os níveis de preços e as condições associadas a esses preços (pricing) e, em segundo lugar, de determinar o número de lugares disponíveis em cada avião por classe de preços.

Mas não se consegue um pricing sem um estudo exaustivo da clientela: a direcção do marketing trabalha um grande número de dados, quer sobre a clientela de Air France, quer sobre a de outras companhias. Estes dados permitem analisar o comportamento de compra, relativamente às datas de reserva, a duração da estada, a altura da viagem, a possibilidade de reembolso. Sem estar a negligenciar, claro, a política tarifária da concorrência, estando pronto para reagir em tempo real se esta ou aquela companhia aérea apresenta o mesmo voo a um preço mais atractivo.

Num voo de ida e volta entre Paris e Nova Iorque no mês de Abril de 2007, em cabina Tempo (classe económica), os bilhetes iam assim de 467 a 3.228 euros.

O "corre mundos", de acordo com a tipologia da companhia aérea, escolherá sobretudo uma tarifa L a 467 euros, incluindo todas as taxas, barato mas cheio de restrições. Esta tarifa está com efeito disponível até trinta dias antes da partida, impõe um domingo no destino, uma estada máxima de um mês, é trocável antes da partida, embora com despesas, mas não se pode alterar a data e a hora de regresso nem mudar de companhia (não é "inter-linhável"). Não é igualmente reembolsável e não permite viajar por etapas (stopover).

Vem seguidamente o "turista". Por 887 euros, a tarifa H está disponível até sete dias antes da partida, mas o domingo deverá ser imperativamente passado no destino e a estada não deverá exceder dois meses. O bilhete é trocável antes da partida, com despesas, mas, contrariamente à tarifa L, é possível alterar a reserva do regresso, mediante despesas.

No topo da escala de preços da cabina económica, há a tarifa a 3.328 euros… Não é nem a tarifa da primeira classe nem mesmo a da classe negócios, mas o preço da liberdade total. É, na tipologia da Air France, a tarifa que pode pagar-se o “executivo”. Com o mesmo serviço a bordo que o bilhete a 467 euros, e o mesmo posicionamento na cabina.

A diferença está no resto: ausência de data-limite para a compra, podendo ser feita no dia da partida. Ausência de estada mínima ou máxima. O bilhete é igualmente trocável, reembolsável, inter-linhável sem encargos, e permite mesmo uma mudança de reserva gratuita no regresso. No total, há nove classes tarifárias na cabina Tempo.

Uma segmentação existe igualmente na classe de negócios. Existem nada menos do que cinco tarifas, com o mesmo corolário: maior a liberdade de mudança (horários, data, reembolso), mais a elevada se revela a tarifa. Idem em primeira classe, onde há três categorias de reservas. Finalmente, entre todas as classes, existem 17 tarifas possíveis para um voo de ida-e-volta entre Paris e Nova Iorque, indo de 467 euros a 8.736 euros, ou seja, praticamente uma relação de um para dezanove…

Resta ao analista atribuir, em função dos períodos de ponta ou mortos, o número de lugares por tarifa. A afectação depende do tipo de tráfego esperado, ou seja, mais simplesmente, da ocorrência do que se chama, em gíria aérea, as "baixas, médias e elevadas contribuições".
Em dois voos com destino a Nova Iorque de segunda-feira dia 21 de Maio, a distribuição variava assim em função da hora de partida. No voo AF 022 de 8 h 25, os especialistas tinham previsto um fraco tráfego de negócios e, pelo contrário, um forte potencial de lazer. Consequentemente, 55% dos lugares eram acessíveis na tarifa mais baixa da cabina Tempo. Neste voo, apenas 14% dos lugares estavam atribuídos às classes de "elevada contribuição", na dianteira do aparelho.

Em contrapartida, nesse mesmo dia, no voo AF 006 de 13 h 15, cujo forte potencial do motivo de negócios é provado, nenhum lugar estava acessível na tarifa mais baixa da cabina Tempo. E 22% dos lugares estavam atribuídos às tarifas de gama elevada.

No mesmo voo AF 006 de 13 h 15, mas no dia seguinte, terça-feira dia 22 de Maio, a cabina já não era a mesma. Os analistas consideraram que o voo tinha um forte potencial de tráfego por motivo de lazer. Consequentemente, 28% dos lugares estavam acessíveis à tarifa mais baixa da cabina Tempo. E as classes tarifárias baixas e médias eram as mais numerosas.

Na Air France, entre os gestores de voos e os "pricers", especialistas dos preços, mais de 200 pessoas trabalham sobre uma imensa plataforma que se assemelha, traço por traço, a uma sala dos mercados financeiros. Aqui, o título bolsista é substituído por uma linha e um destino. E todos os elementos susceptíveis de influenciar a procura são tidos em conta: férias locais, competições desportivas, meetings políticos…

Todos os analistas conhecem perfeitamente o seu destino. O especialista dos voos entre Paris e Nova Iorque sabe bem que a maratona da cidade tem lugar cada ano no primeiro fim-de-semana de Novembro e que os corredores franceses deslocam-se em grupos. Do mesmo modo, as grandes reuniões ou cimeiras na sede das Nações Unidas serão um bom indicador para a cabina de negócios.

É assim que, lugar a lugar, se constrói o lucro da Air France.


François Bostnavaron, “Le vol Paris-New York, c’est combien?”, jornal Le Monde de 24 de Maio de 2007, p.3.

sábado, 19 de maio de 2007

O oligopólio do livro escolar

O mercado do livro escolar português é oligopolista: 80% da quota de mercado está na posse de 3 empresas. E a concentração no mercado está a aumentar, na medida em que Miguel Pais do Amaral e o seu sócio holandês Nicolas Berggruen, proprietários desde o princípio do ano da Texto Editora, acordaram a compra da área escolar da Edições Asa. Aqueles investidores procuram ganhar dimensão e massa crítica com esta aquisição, segundo uma fonte próxima de Pais do Amaral, contactada pelas jornalistas que assinam a notícia do Público.

Qual pode ser o impacto sobre a edição de livros escolares e respectivo preço?

quarta-feira, 16 de maio de 2007

As coimas da AdC

Apenas duas das 22 empresas condenadas, em Portugal, por práticas concertadas pagaram as coimas aplicadas pela Autoridade da Concorrência. Em quatro anos de actividade, este organismo detectou cinco cartéis envolvendo mais de vinte sociedades, que condenou a desembolsar 29,4 milhões de euros pelos danos provocados no funcionamento da economia.

Deste total, apenas 2,3 milhões de euros foram, efectivamente, pagos à Autoridade pelas duas únicas empresas que assumiram o papel de arrependidas num processo de cartel (beneficiaram de reduções nos valores das penalizações). Tratam-se da Johnson & Johnson (J&J) e da Roche, acusadas de terem actuado em conluio com outras três farmacêuticas - Abbott, Bayer e Menarini - em concursos públicos para o fornecimento de tiras reagente (para determinar a glicose no sangue). A primeira investigação da AdC deu origem a um segundo processo (com base nas denúncias da J&J e no qual a Roche colaborou) e fez com os cinco laboratórios fossem condenados duas vezes por cambão.

As outras três condenações trouxeram à luz do dia a existência de um cartel de dez empresas do sector da moagem de farinha de trigo, um outro no sector do sal envolvendo quatro sociedades e, mais recentemente, foram apanhados três prestadores de serviços marítimos no Porto de Setúbal que fixavam preços e repartiam a clientela.

Dado os elevados montantes das coimas, em todos os processos houve recursos para as instâncias judiciais, o que faz com que o pagamento das coimas seja suspenso até uma decisão final por parte da justiça. Até agora só houve uma sentença de um tribunal português sobre um cartel. A decisão do Tribunal de Comércio de Lisboa manteve a condenação da Autoridade a todas as empresas envolvidas no cambão do sal, embora reduzindo as coimas (de 910 mil para 705 mil euros, no total). Ou seja, as empresas visadas têm que pagar as coimas à AdC assim que a sentença transitar em julgado.

Entretanto, do mesmo tribunal surgiram novidades desfavoráveis ao organismo presidido por Abel Mateus, quanto ao recurso interposto pelas farmacêuticas contra a condenação da concorrência. Esta instância judicial emitiu um despacho onde exige que a AdC corrija irregularidades formais na acusação. Caso a decisão judicial final venha a ser favorável para os laboratórios, a J&J e a Roche serão reembolsadas das coimas já pagas.

Abel Mateus disse ao Expresso que, na segunda-feira, entrou no tribunal um pedido de aclaração do despacho, “para que a Autoridade possa ver esclarecidos os argumentos aí aduzidos” e decidir se corrige a acusação ou se recorre para o Tribunal da Relação. O presidente lembra que a AdC funciona “em colaboração estreita com o Ministério Público, que é a entidade que defende e representa a Autoridade em juízo” e garante que caso se confirme “a existência de alguma irregularidade processual sanável, ela será imediatamente efectuada. É essa a nossa responsabilidade na defesa do bem público”.

Abel Mateus encara “com o devido respeito o recente despacho emitido sobre as farmacêuticas”, mas faz questão de salientar que “estamos convencidos, pelas dezenas de recursos confirmados pelos tribunais, que já temos estabilizadas as regras processuais”.

Ao mesmo tempo recusa que as dúvidas levantadas pelo Tribunal do Comércio fragilizem a actuação da Autoridade, já que não se trata de uma decisão final “e não está em causa qualquer dos instrumentos essenciais para o exercício da actuação da Autoridade para fazer cumprir a Lei da Concorrência”. Além disso, frisa o presidente da AdC, “o Tribunal não absolveu as empresas arguidas nem sequer se pronunciou sobre os factos ou sobre os fundamentos da decisão, já que a validade do processo ainda não foi apreciada”. Por fim, Abel Mateus lembra que só é possível dissuadir os comportamentos que violam a concorrência e prejudicam os consumidores, “havendo um corpo de decisões e de jurisprudência que sancione efectivamente os prevaricadores”.


Ana Sofia Santos, "Cartéis não pagam coimas", Semanário Expresso nº 1802, de 12 de Maio de 2007, Suplemento de Economia, p. 12.

Perguntinhas
a) Quais são os sectores de actividade em que a Autoridade da Concorrência já instaurou processos, a empresas acusadas de concertação de preços?
b) Qual é a quantia das coimas já cobradas pela AdC? E a que falta liquidadar?
c) Qual foi o despacho desfavorável para a AdC, emitido pelo Tribunal de Comércio de Lisboa? Qual foi a correspondente reacção da AdC?
d) Quais são os objectivos da Autoridade da Concorrência (consulte o site da AdC)?

terça-feira, 8 de maio de 2007

Previsões da primavera para Portugal

Previsões da primavera para Portugal da Comissão Europeia, disponíveis aqui.

terça-feira, 24 de abril de 2007

A poluição dos biocarburantes

Os biocarburantes, frequentemente apresentados como A solução para lutar contra o aquecimento climático, poderiam não ser a panaceia imaginada por alguns. Um especialista das ciências atmosféricas da universidade de Stanford, na Califórnia, Mark Jacobson, realizou projecções para saber qual poderia ser o impacto atmosférico de uma generalização dos biocarburantes no horizonte de 2020.

Se o conjunto do parque automóvel dos Estados Unidos for convertido ao etanol (ou seja o álcool destilado a partir de plantas), o número de mortes ligadas à poluição aumentaria cerca de 4%, de acordo com este estudo publicado na última edição da revista Environnemental Science & Technology.

Teoricamente, estes combustíveis procedentes de plantas (beterraba, milho, cana de açúcar, ou colza para diester) constituem uma das principais respostas para diminuir as emissões de gases com efeito de estufa, responsáveis pelo aquecimento climático. Estima-se assim que um litro de etanol pode reduzir até 75% estas emissões, em relação a um litro de gasolina de origem fóssil. Reverso da medalha: o impacto na poluição atmosférica seria não negligenciável.

Mark Jacobson baseia as suas conclusões em várias simulações. O primeiro cenário é o de um parque automóvel americano no horizonte de 2020 inteiramente a gasolina e o segundo assente no “E85”, ou seja, um combustível constituído de 85% de etanol e de 15% de gasolina.

“Uma mistura de gasolina com uma concentração elevada de etanol apresenta um risco igual, ou mesmo maior, para a saúde pública, do que a gasolina”, indica Mark Jacobson, que acrescenta: “Em certas partes do país, a mistura “E85” provocou um forte aumento do ozono, um dos principais elementos do "smog" (mistura de nevoeiro e fumo que se forma sobre as grandes aglomerações devido à poluição atmosférica).”

Um aumento mesmo modesto do ozono na atmosfera pode originar um aumento dos casos de asma, e um enfraquecimento do sistema imunitário. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, mais de 800.000 pessoas morrem anualmente no mundo devido ao ozono e à poluição atmosférica.

Estes dados confortam o campo dos cépticos sobre as virtudes dos combustíveis de origem vegetal. Recentemente, duas ONG recordavam em Madrid, aquando de um colóquio sobre biocarburantes, que estes “fazem pesar ameaças sobre a conservação das florestas tropicais, sobre o clima e sobre a segurança alimentar”, devido ao crescimento “das monoculturas intensivas nas zonas mais vulneráveis e ecologicamente mais frágeis do planeta”. O preço a pagar para retardar o aquecimento climático?

Stéphane Lauer, "Les biocarburants polluent aussi", Le Monde, 24 de Abril de 2007.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

A quota de mercado das exportações...

As exportações portuguesas de mercadorias continuaram, em 2006, a perder quota de mercado mundial, e ficaram, deste modo, ao nível mais baixo dos últimos 20 anos, atestam as estatísticas publicadas no final da semana passada pela Organização Mundial de Comércio (OMC).

Os primeiros dados disponibilizados por esta organização para o ano de 2006 colocam o peso da economia portuguesa nas exportações mundiais em 0,359 por cento, um valor que é ligeiramente inferior ao de 2005 (0,364 por cento). Foi o terceiro ano consecutivo de quebra deste indicador e que colocou a quota nacional no valor mais baixo desde 1986.

Apesar de o ano passado ter ficado marcado por um desempenho muito forte do sector exportador português, tal não foi suficiente para acompanhar totalmente a explosão das trocas comerciais que se continuaram a verificar em todo o globo.

De acordo com os números da OMC, as exportações portuguesas de bens (para os serviços ainda não há dados disponíveis) cresceram em 2006 a uma taxa de 13,4 por cento em termos nominais - uma das maiores das últimas décadas. O problema é que as exportações totais realizadas no globo aumentaram durante o ano passado a uma taxa superior a 15 por cento, mantendo o ritmo elevado que se tem registado nos últimos anos.

Aliás, a perda de importância relativa das exportações de mercadorias portuguesas no comércio internacional foi, em 2006, um fenómeno que teve paralelo em quase todas as economias consideradas mais desenvolvidas. Dos Estados Unidos à Alemanha, passando pela vizinha Espanha, os países mais ricos do mundo perderam quota de mercado, dando espaço a outros actores, principalmente os provenientes do continente asiático
[...].

Para Portugal, fica a consolação de, neste cenário, se ter registado, durante o ano passado, uma perda de quota substancialmente mais baixa do que em anos anteriores.

Ao longo da história económica da segunda metade do século XX e do início do século XXI, Portugal registou duas grandes fases de acréscimo da sua presença nas trocas comerciais mundiais. A primeira ocorreu entre 1961 e 1973, período durante o qual a quota de mercado passou de 0,24 por cento para 0,31 por cento. Na origem deste resultado esteve a adesão à Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA) em 1963 e a consequente entrada de várias multinacionais que aproveitaram a mão-de-obra barata portuguesa para instalar unidades de produção destinadas à exportação.

Entre 1981 e 1992, a quota voltou a disparar, atingindo o seu máximo nos 0,49 por cento. A adesão à União Europeia e as políticas de abertura do país à economia mundial explicam este resultado.

Desde esse momento, no entanto, a tendência tem sido de descida da quota, com o país a revelar dificuldades em enfrentar a entrada no mercado mundial de vários países que concorrem directamente em indústrias trabalho intensivas.


Sérgio Aníbal, Vendas a nível mundial subiram mais do que em Portugal - Exportações perderam quota em 2006, Jornal Público, 17 de Abril de 2007, disponível on-line em http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1291364.

Perguntinhas
a) Qual foi a quota de mercado das exportações portuguesas de mercadorias em 2006? Qual é a razão que o autor do texto aponta, para o recuo deste indicador?
b) Resuma as diferentes fases de evolução deste indicador da competitividade da nossa indústria, ao longo das últimas décadas.
c) Actualmente o Euro encontra-se muito forte, visto que tem uma cotação superior a 1,3 dólares americanos [desde que foi criado em 1 de Janeiro de 1999 o Euro atingiu o valor mais alto em 30 de Dezembro de 2004, tendo cotado 1,3666 dólares. Diz-se comummente que o Euro está forte quando tem uma cotação superior a 1,2 dólares, e que está fraco quando a sua cotação anda por volta de 0,8 ou 0,9 dólares]. Discuta os efeitos da actual conjuntura do câmbio do Euro sobre o comércio externo português.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

As exportações de calçado português - Boas notícias!

O calçado português está a reforçar a sua presença no estrangeiro. No ano passado, as exportações aumentaram 2,5 por cento, para 1,3 mil milhões de euros. Os dados provisórios do Instituto Nacional de Estatística revelam ainda que o preço médio do calçado vendido ao estrangeiro subiu três por cento, para os 18,28 euros.

"É o segundo maior preço médio, a seguir à Itália, o que revela que Portugal se tem posicionado no segmento do calçado de qualidade em couro", congratulou-se Paulo Gonçalves, porta-voz da APICCAPS, associação representativa do sector.
As exportações cresceram sobretudo para os 25 países da União Europeia. Depois de alguns anos mais negativos, Portugal conseguiu, em 2006, colocar 59 milhões de pares de calçado nesse mercado, no valor de 1,1 mil milhões de euros. É um crescimento de três por cento relativamente a 2005. A França continua a ser o principal destino do calçado português, tendo absorvido 321 milhões, ou seja, mais nove por cento do que no ano anterior. Segue-se a Alemanha, onde as vendas de calçado português aumentaram em oito por cento. Em Espanha, o calçado português atingiu um máximo histórico, com as vendas a subir até aos 97 milhões de euros. "É um aumento de 14 por cento, resultado da aposta que temos feito naquele mercado", sublinhou o porta-voz da APICCAPS.
Nos últimos dois anos, o sector investiu 13 milhões de euros na presença em feiras internacionais. Aliás, oito fabricantes portugueses de calçado estão até amanhã na Rússia, a participar numa feira internacional. E o regresso ao mercado russo tornou-se, de resto, uma das apostas fortes do sector. "Pode voltar a ser um dos mercados mais importantes para o calçado português", sustenta o porta-voz da APICCAPS. Em 2006, Portugal exportou calçado no valor de 14 milhões de euros para a Rússia, numa subida de 18 por cento relativamente a 2005. E, entre os 140 milhões de russos, emerge agora uma classe média com apetência pelos produtos da Europa Ocidental.
Em sentido contrário, registaram-se decréscimos nas vendas para o Reino Unido (baixou nove por cento, para os 157 milhões de euros) e para os Estados Unidos (uma quebra de 31 por cento para os 22 milhões de euros). Explicação: "A valorização do euro face às outras divisas", adianta Paulo Gonçalves.
Ao nível das importações, registou-se um aumento de 11 por cento, para os 318 milhões de euros. O preço médio do calçado importado é inferior ao exportado, fixando-se nos 7,72 euros.

Natália Faria, Exportação de calçado português aumentou 2,5 por cento em 2006, Público, 5 de Abril de 2007, p. 36

Perguntinhas
a) Qual foi o valor das exportações de calçado em 2006? E em 2005?
b) Qual é o peso das exportações para a UE, no total das exportações de calçado? Quais são os principais destinos?
c) Calcule o saldo da balança comercial para o sector do calçado. Como interpreta a disparidade entre os preços médios do calçado importado e o exportado?
d) Utilizando o circuito económico, discuta a importância do aumento recente das exportações de calçado.
e) Qual é o desafio que o Euro coloca aos nossos exportadores?

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Endesa, E.ON, Acciona, Enel... Fusões e aquisições

A Europa da energia tornou-se o campo de batalha dos "patriotismos económicos". Há um ano, o chefe do governo francês, Dominique de Villepin, recusou a compra de Suez pela italiana Enel e respondeu com o contra-fogo da fusão Suez-Gas de France. Desde Fevereiro de 2006, o seu homólogo espanhol, José Luis Rodriguez Zapatero, põe a mesma determinação a rejeitar a OPA do gigante alemão da energia E.ON sobre o grupo madrileno Endesa.

Zapatero forneceu uma nova prova, quarta-feira 28 de Março, decidindo que a Sociedad Estatal de Participaciones Industriales (SEPI) não cederia à E.ON os 2,95% que detém da Endesa. Acrescentados aos 21,03% do grupo de construção e obras públicas ibérico Acciona e aos 24,9% de Enel, que anunciaram uma contra-OPA conjunta, são por conseguinte 48,9% da principal eléctrica espanhola que escapam doravante ao apetite da E.ON, reduzindo as suas esperanças de conseguir o controlo maioritário de Endesa.

José Zapatero bem pode afirmar que o seu governo é "neutro"... ele começou por privilegiar a OPA (22 mil milhões de Euros) lançada em [5 de] Setembro de 2005 pela catalã Gas Natural para criar o grupo à escala europeia que falta a Espanha. Depois da contra-ofensiva de E.ON, cuja oferta passou de 29,1 mil milhões feita em [21 de] Fevereiro de 2006 para 42,3 mil milhões, ele tudo fez para barrar a estrada aos alemães: limitação de direitos de voto e de participações na Endesa, prazos muito longos para lançar operações de contra-OPA…

A Comissão Europeia e o Partido Popular (direita) suspeitam mesmo o chefe do governo socialista de ter feito um acordo secreto com o Presidente do Conselho italiano, Romano Prodi, para abrir a via à Enel. Roma não abrandou a sua posição sobre dois processos que incomodavam o orgulho dos italianos - a compra do operador de auto-estradas Autostrade pelo grupo de construção e obras públicas ibérico Abertis e a entrada da Telefonica espanhola em Telecom Italia?

Estas operações irritaram prodigiosamente Bruxelas. "Alguns espanhóis não estão conscientes do facto que devem respeitar a lei", declarava a Comissária Europeia da Concorrência, em meados de Março, ao diário espanhol El Pais. Neelie Kroes passou aos actos, quarta-feira, levatando uma queixa contra Madrid no Tribunal Europeu de Justiça, no Luxemburgo, para que sejam suprimidos "imediatamente" os obstáculos "ilegais" postos no caminho de E.ON.

Não é demasiado tarde para os alemães? O CEO de Enel alardeava um sólido optimismo, quarta-feira, sobre a hipótese de sucesso da sua oferta sobre a Endesa, parecendo persuadido que "E.ON não excederá os 50%". "Vamos lançá-la [a contra-OPA] o mais depressa possível", declarou Fulvio Conti, ao apresentar os resultados do seu grupo em Londres (3 mil milhões de euros). "E, espero, antes dos seis meses impostos pela CNMV ", a autoridade espanhola dos mercados financeiros.

Jean-Michel Bezat, "Electricité entre Madrid et Berlin", jornal Le Monde, 30 de Março de 2007.

Perguntinhas
a) Quais são as empresas que estão no terreno, para conseguir a propriedade da espanhola Endesa?
b) Por que razão o "patriotismo económico" é combatido pela Comissão Europeia se, afinal de contas, evita alguma concentração da propriedade?

Adenda
A 2 de Abril de 2007 o grupo de energia alemão E.ON anunciou a renúncia à oferta de 42,3 mil milhões de Euros sobre a Endesa, tendo estabelecido um acordo com as empresas Enel e Acciona, que prevê a compra de activos a essas empresas num valor de 10 mil milhões de Euros, relativos a actividades desenvolvidas em Espanha, Itália e França, além da Polónia e da Turquia. Ou seja, a E.ON renunciou à compra da Endesa, mas já garantiu um quinhão de participações.

sábado, 31 de março de 2007

A pressão da moeda sobre os preços

Massa monetária cresce ao ritmo mais alto em 17 anos e "força" BCE a manter subida de juros

O dinheiro em circulação continua a crescer a um ritmo elevado e os europeus não abrandam no recurso ao crédito. O BCE avisa que pode ter de intervir


A aceleração da massa monetária em circulação na Zona Euro para o ritmo mais elevado dos últimos 17 anos deu ontem ao Banco Central Europeu novos argumentos para continuar a subir as taxas de juro durante os próximos meses.O indicador M3 - que agrega os montantes totais das notas e moedas em circulação, dos depósitos e de outros activos transaccionáveis - registou em Fevereiro passado uma variação homóloga de 10 por cento. Para encontrar um valor mais elevado, é necessário recuar até ao mês de Fevereiro de 1990. A massa monetária em circulação é um indicador utilizado pelo BCE para antecipar a ocorrência de pressões inflacionistas a médio e longo prazo, algo que o banco está mandatado para impedir. Em teoria, quanto mais elevado for o ritmo de crescimento do M3, mais possibilidades existem de, no futuro, os preços começarem a subir. É por isso que Jean-Claude Trichet, em declarações feitas ontem, afirmou que irá "olhar com muito, muito cuidado para extrair toda a informação possível destes novos dados". O presidente do BCE mostrou-se desde já preocupado pelo facto do recurso ao crédito mostrar "sinais muito reduzidos de moderação".Os responsáveis do BCE têm avisado, por diversas vezes, que a forma como os europeus têm continuado a recorrer aos bancos para financiarem o seu consumo (especialmente de casas) não só constitui um risco para a estabilidade de preços, como é uma prova de que as taxas de juro se encontram a níveis ainda baixos. Portugal, com uma taxa de crescimento económico baixo e com um elevado nível de endividamento, pode ser um dos países mais afectados.O recurso ao crédito - um dos dados paralelos à evolução do M3 ontem revelado pelo BCE - apresentou uma taxa de crescimento homóloga na Zona Euro de 10,3 por cento, o que representa uma correcção demasiado ligeira face aos 10,6 por cento de Janeiro. Os empréstimos para compra de casa mantiveram uma taxa de crescimento de 9,4 por cento.Perante estes números, Jean-Claude Trichet aproveitou para repetir as declarações que tinha feito após a última reunião do conselho de governadores e que foi lida pelos analistas como um anúncio de novas subidas de taxas ainda durante a primeira metade do ano. "A nossa política monetária continua a ser acomodatícia, as taxas de juro do BCE são moderadas e o crescimento do crédito e da massa monetária é vigoroso. Isso foi mesmo agora confirmado", disse. Neste momento, a taxa de juro de refinanciamento do BCE encontra-se nos 3,75 por cento, após a ocorrência de sete subidas consecutivas, iniciadas em Dezembro de 2005. A generalidade dos analistas espera, dentro dos próximos três meses, uma nova subida para os quatro por cento. Até ao final do ano, as previsões feitas para as taxas de juro encontram-se maioritariamente entre os 4,25 e os 4,5 por cento.

Sérgio Aníbal , "Massa monetária cresce ao ritmo mais alto em 17 anos e "força" BCE a manter subida de juros", Jornal Público, 29 de Março de 2007, p.41.

Notas explicativas
Os bancos, quando emprestam dinheiro às pessoas ou empresas, aumentam os saldos das contas bancárias dos seus clientes, que posteriormente podem financiar a compra de viagens às Caraíbas, de carros, de casas, de equipamentos industriais, etc. Com a concessão de crédito (e portanto com o aumento dos depósitos bancários), os bancos criam moeda escritural, e portanto aumentam os meios de pagamento disponíveis na economia. Podemos dizer que a economia é oleada. E isso é bom, desde que não seja excessivo. Se for excessivo, a produção das empresas tem dificuldade em conseguir acompanhar o aumento da procura de bens, e o aumento da massa monetária (ou seja dos meios de pagamento, do agregado M3 que é referido na notícia) traduz-se em aumento da taxa de inflação (são as "pressões inflacionistas" referidas no artigo).

"O indicador M3 (...) registou em Fevereiro passado uma variação homóloga de 10 por cento." Isto significa que o valor de M3 no mês de Fevereiro de 2007 é 10,3% superior ao valor que teve em Fevereiro de 2006 - e este aumento é muito elevado. O BCE espera que a variação anual seja apenas cerca de 4,5% (este valor é compatível com um crescimento real do PIB na ordem dos 2,5%, e com uma inflação perto de 2%). Daí a preocupação do BCE que é relatada na notícia. O aumento da taxa de juro que se refere como possibilidade, irá no sentido de moderar a corrida ao crédito bancário, o que, como vimos atrás, diminui a pressão sobre a inflação. Mas é claro que o aumento das taxas de juro tem o inconveniente de dificultar a vida às famílias e às empresas que têm dívidas, visto que terão de pagar juros mais elevados pelos empréstimos que contraíram.

Perguntinhas
a) O que inclui o agregado monetário M3?
b) O que se entende "a nossa política monetária continua a ser acomodatícia"?
b) O que é a taxa de juro de refinanciamento do BCE? Qual é o seu valor actual?
c) O aumento substancial de M3 no passado recente pode conduzir a uma pressão para aumentar ou para diminuir a taxa de juro de refinanciamento do BCE? Porquê?
d) Parece que o BCE se preocupa muito mais com a inflação do que com o desemprego. Porquê?