segunda-feira, 2 de abril de 2007

Endesa, E.ON, Acciona, Enel... Fusões e aquisições

A Europa da energia tornou-se o campo de batalha dos "patriotismos económicos". Há um ano, o chefe do governo francês, Dominique de Villepin, recusou a compra de Suez pela italiana Enel e respondeu com o contra-fogo da fusão Suez-Gas de France. Desde Fevereiro de 2006, o seu homólogo espanhol, José Luis Rodriguez Zapatero, põe a mesma determinação a rejeitar a OPA do gigante alemão da energia E.ON sobre o grupo madrileno Endesa.

Zapatero forneceu uma nova prova, quarta-feira 28 de Março, decidindo que a Sociedad Estatal de Participaciones Industriales (SEPI) não cederia à E.ON os 2,95% que detém da Endesa. Acrescentados aos 21,03% do grupo de construção e obras públicas ibérico Acciona e aos 24,9% de Enel, que anunciaram uma contra-OPA conjunta, são por conseguinte 48,9% da principal eléctrica espanhola que escapam doravante ao apetite da E.ON, reduzindo as suas esperanças de conseguir o controlo maioritário de Endesa.

José Zapatero bem pode afirmar que o seu governo é "neutro"... ele começou por privilegiar a OPA (22 mil milhões de Euros) lançada em [5 de] Setembro de 2005 pela catalã Gas Natural para criar o grupo à escala europeia que falta a Espanha. Depois da contra-ofensiva de E.ON, cuja oferta passou de 29,1 mil milhões feita em [21 de] Fevereiro de 2006 para 42,3 mil milhões, ele tudo fez para barrar a estrada aos alemães: limitação de direitos de voto e de participações na Endesa, prazos muito longos para lançar operações de contra-OPA…

A Comissão Europeia e o Partido Popular (direita) suspeitam mesmo o chefe do governo socialista de ter feito um acordo secreto com o Presidente do Conselho italiano, Romano Prodi, para abrir a via à Enel. Roma não abrandou a sua posição sobre dois processos que incomodavam o orgulho dos italianos - a compra do operador de auto-estradas Autostrade pelo grupo de construção e obras públicas ibérico Abertis e a entrada da Telefonica espanhola em Telecom Italia?

Estas operações irritaram prodigiosamente Bruxelas. "Alguns espanhóis não estão conscientes do facto que devem respeitar a lei", declarava a Comissária Europeia da Concorrência, em meados de Março, ao diário espanhol El Pais. Neelie Kroes passou aos actos, quarta-feira, levatando uma queixa contra Madrid no Tribunal Europeu de Justiça, no Luxemburgo, para que sejam suprimidos "imediatamente" os obstáculos "ilegais" postos no caminho de E.ON.

Não é demasiado tarde para os alemães? O CEO de Enel alardeava um sólido optimismo, quarta-feira, sobre a hipótese de sucesso da sua oferta sobre a Endesa, parecendo persuadido que "E.ON não excederá os 50%". "Vamos lançá-la [a contra-OPA] o mais depressa possível", declarou Fulvio Conti, ao apresentar os resultados do seu grupo em Londres (3 mil milhões de euros). "E, espero, antes dos seis meses impostos pela CNMV ", a autoridade espanhola dos mercados financeiros.

Jean-Michel Bezat, "Electricité entre Madrid et Berlin", jornal Le Monde, 30 de Março de 2007.

Perguntinhas
a) Quais são as empresas que estão no terreno, para conseguir a propriedade da espanhola Endesa?
b) Por que razão o "patriotismo económico" é combatido pela Comissão Europeia se, afinal de contas, evita alguma concentração da propriedade?

Adenda
A 2 de Abril de 2007 o grupo de energia alemão E.ON anunciou a renúncia à oferta de 42,3 mil milhões de Euros sobre a Endesa, tendo estabelecido um acordo com as empresas Enel e Acciona, que prevê a compra de activos a essas empresas num valor de 10 mil milhões de Euros, relativos a actividades desenvolvidas em Espanha, Itália e França, além da Polónia e da Turquia. Ou seja, a E.ON renunciou à compra da Endesa, mas já garantiu um quinhão de participações.

Sem comentários: