A economia real ao ataque...
Fernando Ulrich no Público de hoje dá uma entrevista a Cristina Ferreira onde revela as mazelas da banca nacional, ao mesmo tempo que deixa um aviso: "[os bancos] vão ter que cobrar preços mais altos".
Algumas notas:
- O défice da BTC (e o marasmo do investimento externo) significa uma dependência do financiamento externo. A escassez de crédito e o aumento dos spreads externos traduzem-se em condicionamento do crédito disponível para o Estado, Empresas e Famílias ("é bom que as pessoas tenham consciência que Portugal é um dos países com um dos maiores défices da BTC do mundo. Quer em percentagem do PIB, quer em valor absoluto, é uma realidade que poucos conhecem. O país com maior défice da BTC é os EUA, o segundo é a Espanha. E Portugal está nos 10 primeiros. E o desafio é este, pois financiar este défice vai ser muito mais difícil do que foi até aqui. E pode até não ser possível.") E o negócio bancário ressente-se;
- A banca é acossada injustamente com as opiniões desfavoráveis de Mário Soares, Jorge Sampaio, Belmiro de Azevedo e Henrique Granadeiro. Apenas um banco, a CGD, já beneficiou da garantia estatal para se endividar; a ameaça governamental de suspender a garantia é despropositada. O BPP pode não ser viável;
- O aumento da exigência de capitais próprios, com a subida da Tier 1 para 8%, é mau vindo: vem complicar o exercício bancário ao exigir aumentos de capital, num momento em que é difícil de o fazer. A banca tem dificuldade em remunerar o capital e por isso é de esperar um aumento dos preços.
Duas reflexões sobre esta entrevista:
- Tivemos duas décadas de sossego nas contas externas; inicialmente fomos embalados pelo investimento externo e depois pela credibilização associada à participação na UEM. Se até 1986 tínhamos duas bombas sempre prontas a detonar (o desemprego e a ruptura nos pagamentos internacionais), agora temos uma (o desemprego) e uma espécie de bomba que é a corrosão da nossa credibilidade junto dos credores. A economia real (falta de competitividade, défice externo) volta em todo o seu esplendor. E isto num ambiente de desconfiança dos investidores internacionais. A banca navegou lindamente durante aquelas duas décadas. A margem de intermediação bancária minguou com a desinflação mas as dívidas (e portanto o negócio) dispararam. Agora tudo se complica.
- Aparentemente pela cabeça de Fernando Ulrich não passa a hipótese das dificuldades da banca serem combatidas com reestruturações, com fusões. Ulrich fala tranquilamente em aumento dos preços cobrados pelos bancos; presumivelmente spreads mais elevados e reforço dos custos de serviços bancários. Ao ler o aumento preconizado dos preços, é difícil afastar a estafada ideia da concertação dos bancos...
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