terça-feira, 3 de julho de 2007

Quem manda no Euro?

Para construir aviões na Europa é necessário depreciar o euro, explicou Nicolas Sarkozy, sábado dia 23 de Junho, na feira Bourget: “Peço para fazer com o euro o que fazem os americanos com o dólar, os chineses com o yuan, os japoneses com o iene, os ingleses com a libra.” O presidente francês, aliás, estará presente no próximo ECOFIN, o Conselho de Ministros das finanças da União Europeia (UE), a 10 de Julho. Entre os assuntos que conta abordar: “Não se pode ser a única zona do mundo onde a moeda não é posta ao serviço do crescimento.”

Sarkozy poderá impor aos outros membros da zona euro, maioritariamente preocupados com a ortodoxia monetária, uma estratégia de depreciação do euro? Alguns, como a Alemanha, adaptam-se melhor ao seu valor, através de um acréscimo de competitividade. “As ideias de Nicolas Sarkozy sobre o euro são interessantes, mas para utilizar o euro como ele deseja é necessário realizar em primeiro lugar a Europa fiscal e política…”, nota Sylvain Broyer, economista em Natixis.

No entanto os ministros das finanças europeus tentaram, nos últimos anos, ter mais voz nesta matéria, face ao presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, que afirma regularmente: “Sr. Euro, sou eu.“ A ambiguidade é que, nos termos do artigo 111.2 do Tratado de Amesterdão, “as orientações gerais de câmbio” incumbem ao ECOFIN - no qual os ministros das finanças da zona euro formaram um Eurogrupo -, mas não somente: o BCE deve primeiro emitir uma recomendação ou deve ser consultado com base numa recomendação da Comissão Europeia.

Para que o poder político ganhe mais peso, “teria sido melhor criar um ministro dos assuntos económicos da UE em vez de um ministro dos negócios estrangeiros (no tratado simplificado adoptado a 23 de Junho), pelo menos para gerir os dossiers das políticas comuns dos quais faz parte evidentemente o câmbio”, considera Jean-Pierre Patat, conselheiro do Centro de estudos prospectivos e de informações internacionais (Cepii) e antigo Director-Geral do Banco de França, responsável dos estudos e das relações internacionais.

Mas as "orientações de câmbio” estão, de qualquer modo, muito enquadradas: não devem afectar “a manutenção da estabilidade dos preços”, diz o artigo 111.2, [e] uma depreciação monetária aumenta os preços das importações. Impor um objectivo de câmbio preciso poderia ameaçar a independência do BCE sobre as taxas de juro. Ora “Sarkozy disse que não pedia uma mudança de mandato do BCE e que não queria tocar na (sua) independência", recordou Trichet quinta-feira dia 7 de Junho.

No sistema de câmbios flutuantes que governa as grandes moedas – excepto o yuan – os bancos centrais coordenam-se apenas para corrigir as situações extremas, julgadas aberrantes, por intervenções excepcionais e concertadas no mercado cambial: em Setembro de 2000, o BCE e a Reserva Federal americana compraram assim euros e venderam dólares, para arrebitar a moeda única, caída a 0,89 dólares.

No entanto o Banco do Japão escolheu outra via, enfraquecendo a sua divisa por intervenções unilaterais e repetidas no mercado cambial, com taxas de juro muito baixas e com um discurso desencorajando o uso do iene como moeda de reserva. Mas o Arquipélago Japonês foi confrontado com o caso particular de um longo período de deflação. “A zona euro não tem interesse em desencorajar a continuação de um uso crescente do euro como moeda de reserva, que é natural. O peso do euro é a única razão que conduziria os Estados Unidos a ter uma política mais cooperativa a seu respeito: o mercado obrigacionista europeu, mesmo fragmentado, é o único a disputar os mesmos recursos que o dos Estados Unidos ", considera Patat. Será difícil, para Sarkozy, afrouxar o torno.


Adrien de Tricornot, "Euro: le rêve d'une dépréciation compétitive", jornal Le Monde, 3 de Julho de 2007, p. II do suplemento de economia.

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