quarta-feira, 16 de julho de 2014

A magnitude do "haircut" de Francisco Louçã

O programa de reestruturação da dívida pública de Ricardo Cabral, Francisco Louçã, Eugénia Pires e Pedro Nuno Santos tem subjacente um generoso perdão de dívida pública, embora isso não seja admitido pelos seus autores. (Lê-se na Net «"Este programa não solicita um perdão da dívida, antes leva a uma negociação com os credores defendendo os interesses de um Estado que recupera a sua soberania", defendem os autores. No fundo não se trata de um haircut, mas sim "uma combinação de um adiamento da amortização da dívida com uma redução mais substancial dos juros"».) Os autores definem as seguintes condições para o haircut acobertado: um ano de carência (2015), redução da taxa de juro para 1% e amortização da dívida em 10 tranches anuais, a decorrer entre 2045 e 2054. A tabela seguinte considera várias possibilidades para o perdão implícito:

Admitindo que a nossa taxa de financiamento anda pelos 3,5% isso significa um perdão de 50% da dívida. É fabuloso! Claro que as consequências seriam muito complexas: perdas nos balanços dos bancos, nos fundos de investimento e de pensões, na reputação. No projeto dos quatro economistas há um vago revivalismo das engenharias financeiras das PPR: é a reincidência do período de carência. Sabe sempre bem um período de carência; no caso das PPR ele antecedia a avalanche das faturas dispendiosas, neste caso precede o serviço da dívida pública suavizado pelo "soberano". Agora é muito melhor... Desconfio que esta versão gradualista e eufemística de perdão da dívida é pior do que o haircut em versão cold turkey e isso reflete-se no prémio de risco nos mercados.